EmMeio#15.0
Sesgos y traducción automática (Vieses e tradução automática)
Nos últimos anos, descobrimos que o principal desafio da Inteligência Artificial não é como ela replica a inteligência humana individual, mas como ela afeta a inteligência social. Nosso entendimento individual é mediado por nossas comunidades e sociedades, que agora são definidas e avançadas por algoritmos. O desafio científico e tecnológico não é a subjetividade, mas a intersubjetividade, e é exatamente nesse ponto que a arte pode contribuir para o desenvolvimento social da IA. A análise das pesquisadoras do Escritório Científico da Comissão Europeia, Emilia Gómez Gutiérrez, Isabelle Hupont Torres e Marina Escobar Planas, com foco na relação entre o comportamento humano e o da máquina, serviu de semente para que as artistas Helena Hernández Acuaviva e Agda Carvalho se aprofundassem nos problemas de preconceito na tradução automática: uma petição no Change. org revelou que os tradutores do Google ou da Microsoft traduziram a frase "The judge told the nurse to call the engineer" como "El juez le dijo a la enfermera que llamara al ingeniero", com um óbvio viés de gênero. As artistas produziram duas obras audiovisuais nas quais a intuição humana é comparada com a eficácia da máquina, nas quais também fica claro que a Inteligência Artificial é um sintoma das realidades sociais transferidas para o mundo sintético. Os preconceitos das máquinas decorrem, em grande parte, dos preconceitos de nossas sociedades. Na última década, novos estudos em epistemologia social revelaram injustiças epistêmicas e hermenêuticas que privam de voz e de representação, pessoas com realidades diferentes das dominantes ou normativas. Paralelamente a esse caminho teórico, a criação em vídeo, entre o documento e o ensaio visual, apresenta-se como o meio mais adequado para fazer as pessoas verem e ouvirem, e isso é demonstrado nas criações das artistas, que, com suas variações entre humor, ironia e denúncia terrível, trazem nuances inéditas ao problema de condenar máquinas à nossa imagem e semelhança e, assim, selar a condenação de nossa espécie.